Thursday, April 26, 2007

 

Excesso de população e falta de petróleo

Homo Petroleus

Todos os dias a humanidade consome 84 milhões de barris de petróleo por dia, quase 30 biliões de barris por ano! Cada um desses milhões de barris que usamos hoje já não volta mais, nunca mais, em toda a história da terra; acabamos de o retirar das entranhas da terra, onde ele estava sossegado há milhões de ano e ele acabou neste momento de ser utilizado e desaparecer, para todo o sempre, deixando atrás de si um rasto de poluição. Durante mais quanto tempo conseguirá a terra satisfazer o nosso vício?

Neste momento, cerca de 95% de todos os transportes precisam de petróleo para serem deslocados. E quase metade do petróleo consumido mundialmente é utilizado nos transportes. Mas não é só aí que ele está.

O petróleo invade toda a nossa civilização: ele está em todo o lado e em tudo o que utilizamos. Alguns exemplos: Estas palavras estão a ser escritas num teclado feito de petróleo, com a ajuda dum rato feito de petróleo, poisado num tapete de rato feito de petróleo, utilizando um computador cujas peças são quase todas feitas de petróleo e vocês estão a lê-las num ecrã feito de petróleo e se calhar estão a ouvir música através de colunas feitas de petróleo. Por falar em música, as vossas pens, ipods e leitores de cds, e os próprios cds, também são feitos de petróleo, e quando compraram esses objectos, eles vinham embrulhados em mais petróleo, e quando os pagaram na caixa deram-vos um saco também feito de petróleo para os guardarem.

Se ficarem com fome, não se esqueçam que foram gastas 10 calorias para produzir cada caloria de alimento que vocês ingerem. Quando o "jovem agricultor moderno" vai plantar as sementes, ele guia um veiculo que funciona a petróleo; depois pulveriza as sementes com fertilizantes feitos de amónia, que têm a sua origem no gás natural; de seguida pulveriza de novo as sementes uma série de vezes com pesticidas que são feitos de petróleo. Por último, vai irrigar as plantações com água bombeada, a maior parte das vezes utilizando electricidade gerada através de carvão ou petróleo. O petróleo também fornece a energia para a colheita, para o transporte para a fábrica de processamento, o próprio processamento em si, a refrigeração e ainda o transporte para o supermercado ou loja e é nessa altura que nós, os consumidores, vamos às compras num carro que funciona a petróleo.

Isto sem contar com o petróleo que está a embrulhar a vossa comida, e que está também nalguns dos pratos e talheres que vocês utilizam para a comer. Sempre que beberem alguma coisa, ela virá de certeza dentro duma garrafa ou recipiente feito de petróleo; podem beber directamente ou pôr a bebida numa copo também feito de petróleo, que depois será deitado fora e levará mais de mil anos a biodegradar-se. Quando deitarem os restos de comida fora, estes vão para um recipiente feito de petróleo, que depois será colocado num caixote de lixo ou num contentor feito de petróleo e recolhido a meio da noite por homens cujo equipamento é todo ele feito de petróleo. Para finalizar em beleza, podem lavar a loiça com um produto que contém petróleo na sua composição, que está contido num recipiente feito de petróleo e utilizando uma esponja sintética também feita de petróleo.

Depois de terminada a refeição, podem tomar banho ou duche, mas nem aí se conseguem esconder do petróleo: o champô e sabões líquidos que vocês utilizam para se lavarem têm (mais uma vez) petróleo na sua composição, já para não falar na embalagem onde eles estão guardados. A esponja que vocês usam para ensaboar o corpo é toda ela feita de petróleo. Se tomarem duche, não se esqueçam de correr a cortina feita de petróleo para não encharcar o chão da casa de banho com água. A seguir ao banho, podem sempre levar os dentes com uma escova feita de petróleo, utilizando uma pasta de dentes contida num recipiente feito de petróleo, limpar as gengivas usando um fio dental feito de petróleo, contido numa recipiente feito de petróleo e pentear-se com uma escova, um pente ou um garfo, todos feitos de petróleo. Quem tiver de secar o cabelo pode sempre utilizar um secador feito de petróleo. Podem ainda pôr no vosso cabelo uns rolos feitos de petróleo ou na vossa pele um creme ou óleo hidratante feito à base de..petróleo. Por último, não se esqueçam de deixar a casa de banho limpa para a pessoa que a for utilizar a seguir a vocês: limpem a retrete com o vosso piaçaba feito de petróleo.

Quando forem para a vossa sala de estar, podem sentar-se numa das inúmeras peças de mobília em vossa casa que são feitas de petróleo, ligar alguns dos vossos candeeiros feitos de petróleo e ver um pouco de televisão, também feita de petróleo, que por sua vez está ligada à parede com cabos feitos de petróleo e ir mudando os canais num comando à distância feito de petróleo. Se tiverem filhos ou filhas pequenas que estejam a brincar na sala ao pé de vocês, todos os brinquedos deles também são feitos de petróleo. Se tiverem frio, têm duas opções, ou isolam a vossa casa com produtos feitos à base de petróleo ou aquecem-na utilizando petróleo.

Se se fartarem de estar em casa e decidirem ir dar uma volta de carro, não se esqueçam que precisam de petróleo (e muito) para fazer o carro andar. Além disso, todo o material que foi usado na construção do interior e do exterior do vosso carro é feito de petróleo, já para não falar do material que foi utilizado para fazer tanto os pneus como as estradas asfaltadas com que esses mesmo pneus entram em contacto.

Se ficarem doentes e tiverem de ir a hospital, pode ser que tenham de ser transportados numa maca feita de petróleo e entubados com tubos feitos de petróleo. Se apenas tiverem de tomar uns comprimidos, estes vêm selados em embalagens feitas de petróleo ou embrulhados em recipientes feitos de petróleo.

Se por esta altura já estão irritados por estarem rodeado de tanto petróleo, podem sempre ligar-me para o telemóvel para praguejar um bocado, mas não se esqueçam que tanto os telefones fixos como os telemóveis são quase integralmente feitos de petróleo, bem como os seus carregadores. E, para aqueles que têm de usar óculos ou lentes de contacto para não se enganarem nos números enquanto digitam, então estão a olhar para o telelé através de petróleo e as hastes dos óculos que tanto vos cansam as orelhas também são feitas de petróleo.

Só para acabar, todas estas coisas custam dinheiro: para pagar as facturas podem pegar na vossa carteira feita de petróleo, e escolher um dos cartões multibanco feitos de petróleo para pagar a vossa conta num terminal multibanco feito de petróleo ou então podem pagar em dinheiro, que será guardado pelo vendedor numa caixa registradora feita de petróleo, e assim por diante até onde a nossa vista e imaginação alcança; provavelmente, todos vocês conseguiriam elaborar um texto deste tipo utilizando ainda mais produtos do que aqueles que aqui foram mencionados...

(texto baseado e traduzido do livro de Michael C. Ruppert: Crossing the Rubicon)

A falta de petróleo que já se começa a fazer sentir (os preços por barril estavam em Março de 1999 a oito dólares; em Agosto de 2006 chegaram quase aos 80, ou seja um aumento de quase 1000% em menos de 8 anos, e isto é só começo!) e o crescimento desenfreado da população (que não dá sinais de abrandar, quanto mais retroceder) são os dois maiores problemas que se avizinham para a humanidade no século 21; por muito que as pessoas não gostem de ouvir, vivemos todos num planeta que, quando ficar sem petróleo e sem gás natural, só tem recursos para sustentar entre 1 a 2 biliões de pessoas (que eram as que existiam antes da revolução industrial) e não a população de 6.7 biliões de pessoas que existem actualmente, e que está a aumentar ao ritmo de quase 100 milhões de humanos por ano (dez novos "Portugais" por ano, ou um "Estados Unidos" de 3 em três anos...) Podem ver a população mundial a aumentar num destes dois contadores:

http://www.ibiblio.org/lunarbin/worldpop

ou

http://www.census.gov/ipc/www/popclockworld.html

Vão fazendo "refresh" para ver a velocidade com que os números aumentam...

O que é o pico do petróleo

Por outro lado, a extracção de petróleo atingiu o seu pico em Maio de 2005, e a partir daí já não aumentou mais, como podem confirmar no gráfico que está neste link:

http://www.princeton.edu/hubbert/popups/chart-01.html

Isto não quer dizer que todo o petróleo vai acabar amanhã, ou daqui a um ano ou dois, ou mesmo daqui a 10 ou 20 anos. O que quer dizer é que, a partir de agora, e daqui para a frente, vai haver cada vez menos quantidade de petróleo disponível de ano para ano.

Porque é que isto acontece? De acordo com os cálculos mais realistas que existem actualmente, a humanidade utilizou, até hoje, cerca de mil biliões de barris de petróleo dum total estimado em cerca de dois mil biliões (é impossível dar valores exactos a estes dados porque muitos países e empresas petroliferas, por motivos políticos e económicos, mentem acerca do valor real das suas reservas, mas estes são os valores mais consensuais, pelo menos entre geólogos independentes e já reformados, que supostamente são quem sabe melhor do que está a falar; por outro lado, se fossemos dar ouvidos aos políticos e dos economistas, estes diriam-nos que as reservas são infinitas ou que durariam ainda centenas de anos...)

Então, perguntam vocês, se ainda há mil biliões de barris de petróleo por explorar no mundo, e se estamos a utilizar neste momento "apenas" 30 biliões de barris por ano, isso deve querer dizer que ainda temos petróleo disponível durante mais 33 anos, ou seja, até 2030, certo? Então para quê estar a perder tempo a preocuparmo-nos agora?

Errado! Para começar, com a população a aumentar cada vez mais, e com o consumo por pessoa também a aumentar de ano para ano, os mil biliões de barris que restam não vão durar até 2030; poderiam no máximo durar até 2020.

Além disso, e isto é que é o principal e o ponto mais importante da questão, extrair petróleo não é como beber um copo de água, em que bebemos com a mesma facilidade tanto a água que está mais próxima do cimo do copo como a que está no fundo; aliás, mesmo num copo de água temos um pouco mais de dificuldade em beber a segunda parte da água do que a primeira: temos de inclinar mais o copo ou temos de chupar com um pouco mais de força pela palhinha.

Quando se extrai petróleo, seja num só campo, seja a nível mundial, começa-se por extrair aquele que é de melhor qualidade, que é mais fácil de retirar do solo e o que está mais acessível (por exemplo, o que se encontra mais perto da superfície, ou em estado mais líquido). Quando já se extraiu metade do petróleo disponível num determinado campo petrolífero, foi sempre a parte mais acessível, rentável, fácil, etc que se retirou em primeiro lugar.

A partir desse momento, o petróleo que resta é de pior qualidade, está em sítios cada vez mais inacessíveis (águas profundas, pólos) ou em países em que as pessoas odeiam o mundo ocidental (graças principalmente à política externa americana e britânica, mas não só) e a extracção passa a ser mais difícil e complicada, logo é feita a um ritmo cada vez mais lento, com resultados cada vez piores e a certa altura passa mesmo a ser economicamente inviável ou fisicamente impossível.

É a este ponto em que cerca de 50% do total das reservas dum campo petrolífero (ou do conjunto dos campos petrolíferos mundiais) já foram exploradas, que se chama o Pico do Petróleo; é a capacidade máxima de extração - a partir dái, a extração não desaparece instantaneamente, mas começa lenta mas inexoravelmente a descer, até atingir o fundo, normalmente 30 a 40 anos depois do pico.

Portanto, mais uma vez, não vamos ficar sem petróleo dum dia para o outro, vamos é ter cada vez menos petróleo disponível a cada ano que passa (e cada vez mais caro...) e é isto que, conjugado com o aumento da população mundial e o aumento do consumo de petróleo por pessoa que vai levar ao fim da civilização industrial tal como a conhecemos. Resta saber se vai ser uma mudança lenta e gradual ou se vamos continuar como se nada fosse até chegarmos ao limite e depois colapsar-mos, implodirmos ou despenharmo-nos por um penhasco abaixo. Há já bastantes sinais de que é esta segunda via que vai ser seguida.

Para terminar este capítulo, só uma comparação para servir de exemplo: numa pessoa de 80 quilos, 55 quilos são água. Para ficar desideratada e morrer, basta à pessoa perder 5 a 10% do total da água corporal. Da mesma forma, a nossa civilização industrial, tecnológica e financeira está tão dependente do petróleo que basta uma diminuição de 5% a 10% no seu fornecimento, para a sociedade em causa poder entrar em recessão ou mesmo em colapso.

Foi isto que aocnteceu nos anos 70 e 80, em que os embargos políticos de 1973 e 1979 provocaram subidas de preços repentinas de até 400% no preço da petróleo, aumentos esses que se reflectiram em todos os outros bens e serviços, o que deu origem a uma inflação altissíma, a uma diminuição do poder de compra e provocou uma recessão económica que durou mais duma década.

Comments:
bilioes kkkkkkkkkkkk
 
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